História
Ian Guedes, 23 de abril de 2024
O Arquivo X Soviético, um caso envolto em mistério e teorias conspiratórias, intriga o mundo até hoje. Uma pegada gigante e inexplicável no local, a possibilidade de um foguete alienígena e diversas outras hipóteses desafiam a lógica e aguçam a curiosidade.
Em fevereiro de 2019, 60 anos depois do ocorrido, a Promotoria russa anunciou a reabertura do caso mais famoso, a fim de acabar com o mistério sobre as mortes de nove alpinistas especialistas em esqui cross-country, estudantes do Instituto Politécnico de Ural (atual Universidade Técnica do Estado de Ural) que foram encontrados mortos em um acampamento em uma passagem nos Montes Urais, na Sibéria.
O conjunto inicial composto por oito indivíduos do sexo masculino e duas do sexo feminino se encontrou em Yekaterinburg, localizada no coração do centro-oeste da União Soviética, em 23 de janeiro de 1959.
Partindo de lá, embarcaram em uma jornada de trem rumo a Ívdel, ao norte dos Montes Urais, onde chegaram dois dias mais tarde. Naquela mesma noite, alcançaram seu destino final: Vizhai, o derradeiro assentamento no extremo norte da região.
O plano era seguir para Gora Otorten, uma montanha com aproximadamente 1.200 metros de altura. "Segundo a língua indígena local, o mansi, 'Otorten' significa 'Não vá lá'".
A trilha que enfrentaram, esquiando até chegar ao destino, foi classificada como categoria 3, a mais desafiadora. No entanto, todos os integrantes do grupo eram esquiadores experientes, inclusive em expedições de montanhismo.
Iniciaram a jornada em 27 de janeiro, mas apenas um dia depois, um dos membros do grupo, Yuri Yudin, de 22 anos, precisou retornar a Vizhai devido a uma intensa dor no nervo ciático. Ele foi o único sobrevivente do grupo.
O que aconteceu nos Montes Urais
Ígor Diátlov havia combinado de enviar um telegrama à universidade quando o grupo retornasse a Vizhai, o que estava programado para ocorrer em 12 de fevereiro.
No início, a falta de notícias do grupo dentro do prazo não causou grande surpresa. Atrasos devido ao clima adverso eram comuns. No entanto, quando o dia 20 de fevereiro chegou e três semanas se passaram sem qualquer sinal do grupo, as famílias dos estudantes começaram a ficar preocupadas. O Instituto Politécnico organizou então uma equipe de busca composta por estudantes voluntários.
Os jovens descobriram uma tenda coberta de neve e, ao entrarem, encontraram apenas objetos, incluindo botas de neve e carne cortada em pratos, como se os esquiadores estivessem prestes a fazer uma refeição.
Surpreendentemente, a tenda tinha sido cortada pelo lado de dentro. "Pode ser que eles estivessem desesperados para sair... Mas por quê?".
Um dos estudantes que participou da busca há 60 anos revelou à jornalista um detalhe ainda mais estranho: "Próximo à tenda, vimos pegadas congeladas, como se tivessem sido feitas por pessoas usando apenas meias ou descalças", relatou ele.
As pegadas desapareciam alguns metros adiante. "Ficamos perplexos", recordou o voluntário. Eles retornaram à base para relatar suas descobertas.
No dia seguinte, ao voltarem ao local, confirmaram seus piores temores: começaram a encontrar os corpos. Alguns estavam vestidos apenas com roupas íntimas, enquanto outros estavam vestidos, mas sem calçados.
A causa oficial da morte foi atribuída à hipotermia e ao congelamento, mas alguns corpos apresentavam ferimentos graves que não poderiam ser explicados pelo frio. Uma das mulheres tinha uma contusão severa no lado do corpo, que parecia ter sido causada por um objeto contundente. Outro estudante tinha o crânio fraturado.
Os últimos quatro corpos só foram descobertos três meses depois, em uma ravina, quando a neve começou a derreter. Três deles tinham ferimentos fatais, incluindo uma fratura craniana.
A outra mulher e outro dos homens também tinham fraturas no tronco "que só poderiam ter sido causadas por uma força extremamente poderosa, comparável a um acidente de carro".
A teoria da queda do Foguete
Uma das teorias que surgiram na época e que persistem até hoje é a crença de que a morte dos jovens pode ter uma explicação tecnológica: um foguete caiu na área e envenenou o grupo.
Muitos apoiam essa teoria, especialmente considerando o contexto da Guerra Fria, quando a União Soviética liderava a produção de armas e equipamentos espaciais.
Yuri, um residente de Ecaterimburgo obcecado pelo caso, especula que os jovens podem ter morrido como resultado de um experimento, e que a cena do crime foi "encenada" para encobrir o que realmente aconteceu. Ele afirmou à BBC ter visto os corpos das vítimas e notado seus rostos alaranjados.
Muitos russos acreditam que o Estado tentou encobrir o que aconteceu neste caso. Até mesmo o ex-presidente Boris Yeltsin (1931-2007), que estudou no Instituto Politécnico de Ural, compartilhava essa crença de que algo incomum havia ocorrido.
Em 1990, quando a União Soviética começou a se desmantelar, o primeiro investigador do caso, Lev Ivanov, revelou a um jornal que havia coletado vários depoimentos de pessoas que avistaram bolas de fogo no céu. Ele afirmou ter sido instruído a classificar suas descobertas como secretas e a esquecer o assunto. Em sua entrevista, Ivanov pediu desculpas às famílias das vítimas por encobrir o ocorrido.
Um investigador particular que teve acesso aos documentos de Ivanov após sua morte relatou à BBC que o primeiro relatório sobre os corpos indicava a presença de radiação em suas roupas. Ele também mencionou a participação de agentes da KGB nos exames, preparados para evitar a contaminação radioativa.
Por outro lado, ele observou que vários animais mortos foram encontrados na área onde os estudantes foram achados, e destacou que a caça e o uso da água foram proibidos na região por quatro anos, conforme confirmado pela comunidade mansi.
Apesar da teoria de uma explosão ou queda de um foguete ser considerada provável, persistem algumas hipóteses menos plausíveis. Estima-se que existam aproximadamente 75 explicações diferentes sobre o que poderia ter ocorrido.
Outras teorias
Uma dessas teorias sugere que as mortes foram causadas pelo "abominável homem das neves", também conhecido como Yeti. Além disso, há aqueles que acreditam que possa ter sido uma abdução extraterrestre.
O interesse contínuo nesse mistério levou as autoridades russas a anunciarem a reabertura da investigação em fevereiro passado, por ocasião do 60º aniversário do incidente.
No entanto, os pesquisadores esclareceram que irão investigar apenas três possíveis causas, todas relacionadas ao clima extremo. "Foi uma avalanche, um bloco de neve compacta que caiu ou um furacão", resumiu o porta-voz do procurador-geral.
Desde então, o Arquivo X Soviético se tornou um terreno fértil para teorias conspiratórias e especulações. Uma das hipóteses mais populares é a de que a pegada pertence a um ser extraterrestre, um gigante alienígena que visitou a Terra há milhares de anos.
Outras Possibilidades e Mistérios Persistentes
Além das teorias mais populares, o Arquivo X Soviético também inspirou diversas outras hipóteses, desde a presença de civilizações perdidas até a ação de seres interdimensionais. A falta de explicações científicas definitivas alimenta o mistério e a fascinação pelo caso.
Profissional especializado em soluções digitais, com formação em Psicologia e Análise e Desenvolvimento de Sistemas, além de especialização em Arquitetura de Sistemas e MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Sempre em busca de aprendizado contínuo.
As teorias da conspiração são especulações que não são baseadas em evidências científicas. Elas podem ser divertidas de ler, mas é importante lembrar que elas não são necessariamente verdadeiras. Antes de acreditar em qualquer teoria da conspiração, é importante fazer sua própria pesquisa e avaliar as evidências. Também é importante lembrar que as teorias da conspiração podem ser usadas para espalhar desinformação e prejudicar as pessoas.